MANTELES / TOALHAS DE MESA
Perdida
no abismo de teus olhos
que perguntam
descarados
pelo pão pelo vestido
por essa mãe ausente
cujo nome não sabe
desabo pela cavidade
tobogã de tuas tripas
que cantam
sua orquestra visceral
onde a fome se serve
em toalhas de luto.
MONDONGO
Ferve a panela
sua esquálida miséria
ao tocar fundo
am áspero silvo
descalço o porvir
apressa sua cobiça
que desde o bafo cúmplice
desnuca o paladar
Hoje haverá jantar
debaixo do teto de zinco
catorze olhos sussurram
por resguardar o sabor
para seus sonhos
um guisado de mondongo
acenderá luz à noite
envergonhado
vai se esconder o poema
junto ao garfo
(mondongo é um prato barato parecido com a buchada portuguesa)
FRIDA
Frida
essa mulher que olha
pelos orifícios de seu ventre
enroscando suas veias / cicatrizes
onde aquietar sua fúria sobre telas
escrava de paixões / de punhais
que retratada-atada-está
entre girassóis
que cospe e reclama
perante injustiças
desde seu berço-cama-dura-quieta
recortada em pedaços
sua coluna.
Frida
a dos pregos / apregoa
retorcida cadeira imóvil
entre pássaros-pincéis
revoluciona tempos
agitada de amor
por seu Rivera.
© Silsh